Docentes dos campi da UFSM compartilham
visões sobre trabalho remoto

Em Palmeira das Missões, Cachoeira do Sul e Frederico Westphalen, professores(as) tentam se adaptar ao REDE

Falar e escrever sobre o trabalho remoto virou quase que um imperativo entre professores (as), já que, como mencionou Ascísio Pereira, vice-presidente da Sedufsm e docente do departamento de Fundamentos da Educação, durante a última reunião do CEPE, ninguém foi preparado psicológica ou pedagogicamente para entrar em um modelo como o do Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE). Ao contrário da Educação a Distância (EaD), que possui tutores, planejamentos e planos pedagógicos, a pandemia lançou, repentinamente, docentes e alunos (as) numa esfera completamente nova. 

Já publicamos, há algumas semanas, uma matéria com relatos de como vem sendo esse período de isolamento e trabalho remoto para as docentes da UFSM que são mães de crianças. Agora, a ideia é dar voz aos e às docentes que atuam nos campi descentralizados da instituição – Palmeira das Missões, Frederico Westphalen e Cachoeira do Sul.

Cabe lembrar que a UFSM está com as atividades acadêmicas e administrativas presenciais suspensas desde o dia 16 de março e, logo na sequência da suspensão da presencialidade, já instituiu o REDE – que só viria a ser normatizado em agosto de 2020. Uma das principais críticas feitas tanto pela direção da Sedufsm quanto por diversos (as) docentes da base é com relação à falta de um processo mais amplo de reflexão acerca das potencialidades e limitações do modelo.

Momento desafiador

Vania Rey Paz é docente do departamento de Administração da UFSM em Palmeira das Missões. Tendo aderido ao REDE desde o momento de sua implementação, ela diz que o trabalho nesse modelo é desafiador e demanda uma rápida adaptação. “Isso exige um tempo maior para dominarmos as ferramentas e a metodologia necessária para o trabalho”, comenta.

Os desafios de adequação à forma remota de trabalhar juntam-se às demais angústias que o momento de pandemia já impõe a todos, ainda que em diferentes medidas. Vania comenta que uma das consequências físicas da nova forma de lecionar tem sido um cansaço maior da visão – devido à grande quantidade de tempo passada em frente a telas de computador.

“No psíquico, sinto desconforto em encontrar presencialmente as pessoas, causado por certo receio de contágio. Penso que esse mal-estar irá demorar para passar! E definitivamente, eu não era assim!”, conta a docente, que, embora não tenha filhos (as), reserva atenção para o cuidado de seus pais já idosos e residentes de Santa Maria. “A maior dificuldade é a restrição com as viagens, então tento aproveitar ao máximo o tempo compartilhado com eles”.

Quando se fala em ensino e trabalho remoto, outra questão muito levantada diz respeito à desigualdade de acesso por parte dos (as) estudantes. Por muito tempo, os campi descentralizados da UFSM sofreram com dificuldades estruturais, especialmente de acesso à internet. Vania explica que, embora haja muita dedicação por parte dos (as) estudantes, algumas dessas dificuldades são, sim, observadas.

“No campus de Palmeira das Missões, os alunos participam ativamente das atividades do REDE, mas percebo a dificuldade que muitos têm de acesso à internet e demais equipamentos adequados para o trabalho, como computadores por exemplo, pois noto que muitas vezes utilizam o próprio celular. Mas, esforçam-se, há dedicação, realizações e aprendizado”, salienta a docente.

Retorno positivo

Karen Kraemer Abreu, subchefe do Departamento de Ciências da Comunicação do campus da UFSM em Frederico Westphalen, também aderiu ao REDE logo que o modelo foi implementado. Ela explica que, naquele momento, 50% das turmas com que trabalhou optaram por acompanhar os conteúdos na forma remota, e 50% preferiram aguardar a volta da presencialidade.  

Desde o início, Karen buscou estar próxima aos (às) alunos (as). E isso se intensificou quando iniciou o segundo semestre letivo de 2020, com o REDE já regulamentado e uma maior proximidade com as ferramentas digitais. Naquele momento, ainda antes de iniciar as aulas do semestre (em 19 de outubro), ela passou email a todos (as) os (as) estudantes matriculados (as) informando sobre como se dariam as aulas e atividades. Também, antes do início formal da disciplina, já havia postado todos os power points referentes às aulas do semestre no Moodle. Com ajuda de uma monitora, a docente ainda criou grupo de whatsapp para dinamizar a comunicação com a turma.

Karen conta que sempre preservou a preocupação com o fato de as disciplinas não representarem um peso grande na vida dos (as) estudantes, de forma que mesclava atividades avaliativas um pouco mais pesadas, e um pouco mais leves. O envolvimento especialmente com a turma da disciplina de Comunicação e Arte, uma Disciplina Complementar de Graduação (DCG), levou a que as seis aulas síncronas (ao vivo) previstas inicialmente se transformassem em nove.

“Foi muito prazeroso para mim e imagino que para eles também. Tive alguns retornos deles no final do semestre agradecendo as aulas. Eles se sentiram acolhidos na disciplina porque tinham várias formas de comunicação”, avalia.

Ela conta, ainda, que alguns alunos trancaram a disciplina por motivos diversos – desde perda de emprego até acometimentos próprios ou de pessoas da família por Covid-19.  “É uma situação que acometeu cada um de nós de maneira muito específica”.  

A docente, embora não tenha filhos (as), integra o grupo de risco para a Covid-19, assim como sua mãe (76) e seu padrasto (80). Filha única, Karen passou por um período complicado no início deste ano, quando sua mãe fraturou o tornozelo e teve de passar por processo cirúrgico. Hoje, ainda cadeirante, ela vive a fase inicial de um tratamento fisioterapêutico.

“Fico muito isolada em casa. Vou a supermercado e farmácia, sempre me cuidando muito. Sempre com máscara. Não fui acometida pelo vírus durante todo esse período e, agora, estou no aguardo da vacinação”, diz a docente, que se reconhece como alguém tranquila e espiritualizada – características que têm a ajudado a passar por este momento. “Acredito que a gente vai vencer tudo isso. É importante que a gente perceba que essa situação não é uma brincadeira, não é leve, precisa de cuidados bem específicos”, conclui.

Afastamento

Segundo dados da Perícia Oficial em Saúde da UFSM, desde o início da pandemia (dados de 16 de março de 2020 a 10 de março de 2021), somente entre as professoras mulheres, 147 solicitaram afastamento do trabalho. Dessas, 44 entraram no período de licença gestante; 5 afastaram-se em decorrência de doença em pessoa da família; e 98 atestaram licença para tratamento de saúde.

Ricardo Rocha, docente do curso de Arquitetura da UFSM em Cachoeira do Sul, talvez seja mais um docente a solicitar afastamento no próximo período. Isso porque o trabalho remoto agravou problemas em sua coluna que levaram seu médico a não recomendar este modelo de trabalho.

“A questão não é se vou sentir dor. Sinto quase o tempo todo, mas se ela (a dor) é suportável. Estamos eu e minha esposa em um processo complicado de adoção, desgastante física e emocionalmente; e minha esposa essa semana foi pra linha de frente da pandemia. Mas o que realmente preocupa é o atual processo de desmonte do país. Essas são as “condições” do trabalho remoto”, conta.

Além da questão física, ele não teve grandes problemas na adaptação ao REDE, embora reconheça o grande período de tempo demandado.

“Claro, demandou trabalho extra, (auto)treinamento em softwares, reinventar as aulas, ficar “online” 10/12h por dia com aulas, gravando, editando, pesquisando, orientando, lendo e respondendo emails, whatsapp, reuniões etc. Mas o meu caso é específico pois dou aula no final do curso. Meio e início, principalmente, são mais complicados, turmas maiores e menos autonomia discente. Mas agora, com as dores na coluna, ficou inviável”, pondera.

Texto: Bruna Homrich

Imagens: Arquivo Sedufsm e Arquivos Pessoais

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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